O que esperam os mercados para 2021
Recente pesquisa feita pela Deloitte e denominada “Agenda 2021” pretendeu trazer as perspectivas das empresas para o ano entrante, abordando três vertentes: Recuperação, Sustentação e Legado.
Também recentemente e tratando de tendências para os mercados, o presidente da B3 (Bolsa de Valores), Gilson Finkelsztain participou de teleconferência com jornalistas.
Faremos aqui uma análise comparada de como essas duas fontes veem os desafios para 2021.
Destaque-se que ambos os eventos se deram já com a perspectiva de uma “segunda onda” da atual pandemia, mas ainda sem informações sobre eventuais variantes ou mutações no vírus que neste momento nos aflige.
O ano da pandemia
Segundo a pesquisa citada, ao longo da crise e de forma a atender aos seus desafios e buscar mais eficiência, grande parte das empresas estabeleceu prioridades, fez adaptações e realizou investimentos. O resultado foi a boa recuperação verificada, em comparação à situação dos negócios nos piores momentos da pandemia.
Esses momentos se deram, de uma forma geral, entre maio e junho 2020 e foram representados por uma queda média de 35% nas vendas. Como exemplo e considerando a amostra do trabalho, o setor de Veículos e autopeças amargou um decréscimo de 63,3%, Turismo, hotelaria, lazer e serviços de educação 54,2% e eletrônicos, roupas, calcados e perfumaria, 42,6%.
No extremo oposto, Agropecuária, alimentos e bebidas perderam 16,5%, Energia, gás, saneamento e utilidades públicas 22,7% e Atividades financeiras 24,3%
Recuperação
Para 79% das empresas entrevistadas, a atividade econômica em 2021 não terá como ficar maior do que antes da pandemia (para 42%, igual e para 37%, menor).
Por outro lado, 44% das empresas aumentarão o quadro de funcionários. Manterão o quadro 47% (23% sem e 24% com substituições).
As curvas de recuperação, assim como as quedas de vendas, também variam conforme o setor atingido. Especialmente no que respeita à recuperação das margens líquidas do negócio, para alguns segmentos verifica-se uma clara preocupação em recompor margens.
Sustentação
Seja por força da necessidade de desenvolver canais online de vendas, seja para dar suporte a modelos de trabalho remoto, houve ampliação dos investimentos em tecnologia e em segurança digital. É evidente que, nesse cenário, a capacitação de pessoal torna-se improrrogável.
Dadas as incertezas inerentes à situação, verifica-se que as empresas não estão dispostas a investir massivamente em produção e crescimento. Das 663 organizações participantes, 29 declinaram sua intenção de realizar IPO no próximo ano. Já para 49 delas, o caminho será emitir títulos da dívida.
No campo financeiro, Finkelsztain entende que a permanência dos juros em níveis baixos fez com que os investimentos de renda fixa perdessem parte de sua rentabilidade, atraindo mais investidores para a renda variável em busca de maiores ganhos.
A esse propósito, destaca que há um movimento no sentido de aumento da chegada de novos investidores, dispostos a assumir mais risco, tendo em vista o cenário dos juros já comentado.
Governança
Governança ambiental, social e corporativa (ESG) finalmente parece estar entrando no radar das empresas. Mas ainda muito timidamente.
Políticas de inclusão social serão adotadas em 12% das empresas; 28% não pretendem fazê-lo. Relatórios de sustentabilidade serão foco de 14% contra 47% sem essa preocupação.
Indicadores de gerenciamento de impacto ambiental serão aplicados por 14% dos entrevistados. Já 40% não o farão. O uso de indicadores de sustentabilidade para a tomada de decisões estratégicas da liderança será objeto da atenção de 16%, em oposição a 42% sem essa pretensão.
Gilson Finkelsztain informa sobre o papel de indutor da B3 quando o assunto é ESG, uma vez que realiza ações de incentivo às empresas para a adoção desses critérios de conduta. Um exemplo é o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), que lista as ações das empresas que operam sob aquela ótica.
Um assunto premente é a adequação à LGDP (Lei Geral de Proteção de Dados. Apenas 38% das empresas estavam preparadas para atender aos seus requisitos quando da sua entrada em vigor, em setembro passado, com 46% parcialmente preparadas.
Ambiente de negócios
Estímulo à geração de empregos (81%), manutenção da inflação abaixo dos 4% (64%), Investimentos governamentais em infraestrutura (63%) e estímulo à oferta de crédito à população (46%) são as principais prioridades elencadas para estimular a atividade econômica em 2021.
Para estímulo da atividade empreendedora, as ações mais lembradas são: ampliar a oferta de crédito às empresas (69%), ampliar o apoio às microempresas (68%), incentivar a adaptação à transformação digital (58%) e melhorar os processos de abertura e fechamento de empresas (45%).
No sentido de avançar no desenvolvimento social, destacam-se: mais investimento em educação (83%), em saúde (64%), em segurança pública (52%) e em saneamento básico (51%).
O presidente da B3 lembra que a positividade do mercado em 2021 depende da agenda governamental. O avanço das privatizações, da agenda de reformas e, principalmente, do compromisso fiscal são apontados como as principais medidas para que a retomada econômica.
Esperança e realidade
Se por um lado a expectativa das empresas é de retomada das condições de mercado pré-pandemia até o final de 2021, por outro apresenta-se a recorrente dependência do poder público para a consecução desse objetivo.
De parte das empresas, temos certeza, o empenho será total.
Mauricio Prieto e Randall Edmundo são sócios-diretores da Synerhgon
Este artigo foi originalmente publicado no site Modais em Foco